Treinamentos e crenças – indo além de fórmulas prontas

Treinamentos e crenças – indo além de fórmulas prontas

Recentemente li um artigo de Andy Kirk sobre treinamento e como treinar atletas. O artigo é muito semelhante com meu próprio pensamento sobre como treinar pessoas. O nome do artigo é Indo além do TSS. TSS* é um termo em inglês que significa “Trainning Stress Score” e se resume a uma fórmula matemática para quantificar estresse do corpo.

O autor do artigo defende que, independentemente do treinamento, para otimizar o resultado e a satisfação, todo atleta precisa encarar o desafio numa situação de total entrega, competindo num estado entre a fadiga extrema e uma certa analgesia, um esquecimento da dor… Nesse estado chegamos numa situação de “fluxo” ou de “domínio”, como o autor chama.

Esse é um fator fundamental para se ter sucesso. Mas, para entrar no “domínio” precisamos ter passado por um treinamento, obviamente. E como técnico ou atleta é importante observar algumas premissas.

Premissas

  • Onde você está hoje? Qual o seu nível?
  • Aonde você quer chegar?
  • Como fará isso?
  • Como seu progresso será medido?

E isso é só o ponto de partida. Indo além, e supondo que está ciente desses quatro elementos, pense sobre seu progresso e veja se as seguintes situações estão sendo contempladas.

Valores esportivos

  • CONSISTÊNCIA. Dias de treino não são tão eficientes como meses de treino, que não são tão eficientes como anos de treino. Para evoluir não adianta treinar um mês e no outro não treinar.
  • ESPECIFICIDADE. No seu treino há especialidade? Quem não treinar situações específicas em águas abertas, por exemplo, não fará uma boa travessia. Da mesma forma, quem nunca corre longas distâncias não irá se situar bem numa maratona.
  • FOCO SOB ESTRESSE. Treinos são muito bons e imitam situações de prova. Mas aqueles que conseguem competir bem são pessoas que lidam bem com o estresse, com a responsabilidade de ir bem no dia certo. Isso também é treinável, principalmente com ajuda profissional.
  • TÉCNICA. Execução dos movimentos. Os movimentos precisam de constante correção e aperfeiçoamento para otimizar qualquer resultado.
  • CONTROLE DO QUE SE FAZ. Dosar o ritmo e sentir o exercício são premissas para gostar da atividade e coordenar seus esforços. Aqui, me refiro a desenvolver a subjetividade sem depender de relógios por GPS.
  • FEEDBACK. Esse retorno entre atleta e treinador sobre o que se está fazendo é bem importante para o progresso contínuo.
  • DIETA BALANCEADA. Carros de corrida precisam de gasolina da melhor octanagem. Da mesma forma, atletas precisam se alimentar de forma saudável e eficiente.

Não adianta tentar outros ganhos pontuais se os fundamentos acima não forem observados.

Treinamentos e crenças – indo além de fórmulas prontas

Ambiente favorável

Acho muito interessante os treinadores que conseguem conciliar isso com uma atmosfera leve e um clima de amizade. Esse, a meu ver, é um ingrediente necessário para se ter resultados concretos. Na Swimex, por exemplo, contamos com um ambiente favorável e único, em que é possível vivenciar e sentir muita energia em cada passada, pedalada ou braçada.

Para algumas pessoas, caso o treinamento seja rígido demais, ele pode trazer certo cansaço mental de sempre repetir as mesmas coisas. Há pessoas que funcionam assim com rigor e até repetindo muitos treinos. Já outras precisam mais do fator diversão: variedade, treinar por sensação, treinar com parceiros, fazer aventuras, etc. Treinar pelo prazer da atividade. E é aqui que me enquadro e assim procuro trabalhar também.

Atualmente me sinto em casa treinando e ou dando aulas. Esse ambiente conta muito positivamente.

Conclusão

Nem sempre o melhor treinamento é aquele que traz resultados imediatos, mas aquele que promove continuidade, perseverança, prazer e traz a recompensa combinada, seja com um TSS alto, baixo ou não. Lógico que todas as ferramentas existentes hoje em dia são ótimos indicadores e fazemos uso diário delas, inclusive na prescrição de treinamento. Mas o cuidado com a pessoa precisa estar acima disso.

Nesse sentido, precisamos atentar para a individualidade, nas suas aspirações e queixas. O treinamento não pode ser uma fórmula universal, mas sim algo “sentido” e trabalhado como forma de agregar. Tanto em relação aos ganhos físicos de performance quanto aos psicológicos.

Para ser um grande técnico é preciso paixão por ajudar e um desejo constante de saber o porque das coisas, de como fazer e do motivo delas. No outro polo, para ser um grande atleta, ao contemplar cada um desses valores esportivos, procure seu lugar de “domínio” no dia da prova.

Eleve seu jogo ao seu potencial máximo, no nível de poder exigir de si até que se sinta dominado pela atividade e pelo prazer de buscar o seu melhor.

* O TSS quantifica o percentual do seu esforço pelo tempo de duração do exercício, através de sua frequência cardíaca ou medidores de potência.

Guilherme ManocchioGuilherme Manocchio é atleta profissional e técnico da Manocchio Triathlon Team, assessoria parceira da Swimex na parte de triathlon. Triatleta desde 1994 e profissional desde 2000, Guilherme coleciona vários títulos importantes: Campeão IRONMAN Fortaleza 2014, Campeão IRONMAN Copenhagen 2015, Campeão IRONMAN 70.3 Pucon 2012, Vice Campeão IRONMAN Brasil Florianópolis 2011, Pentacampeão Brasileiro de Triathlon de Longa Distância, entre outros.